Elizabeth Teixeira: A Heroína das Ligas Camponesas e sua História com São Rafael-RN

No próximo dia 13 de fevereiro, Elizabeth Altino Teixeira, um dos maiores nomes da luta camponesa no Brasil, completará 100 anos de vida. Nascida em 1925, no município de Sapé, Paraíba, Elizabeth é uma figura emblemática na história da resistência contra a ditadura militar e na defesa dos direitos dos trabalhadores rurais. O que poucos sabem é que parte dessa trajetória de luta e resistência se entrelaça com a história de São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte.

Elizabeth Teixeira tornou-se líder das Ligas Camponesas após o assassinato de seu esposo, João Pedro Teixeira, em 1962. João Pedro foi emboscado e morto devido ao seu papel de destaque na organização dos trabalhadores rurais, o que o tornou um alvo da violenta repressão dos latifundiários e do Estado. Com o golpe militar de 1964, a perseguição aos líderes sindicais e aos defensores da reforma agrária se intensificou. Elizabeth, já viúva e mãe de onze filhos, enfrentou prisão, ameaças de morte e a dolorosa separação da família.

Para sobreviver e proteger o filho que ainda a acompanhava, Elizabeth fugiu da Paraíba e encontrou refúgio em São Rafael-RN, onde viveu clandestinamente por quase 20 anos sob o nome de Marta Maria Costa. Durante esse período, trabalhou como professora, educando crianças da região e mantendo em segredo sua verdadeira identidade. Poucos sabiam que aquela mulher discreta era, na verdade, uma das mais procuradas líderes camponesas do país.

A história de Elizabeth foi imortalizada no documentário Cabra Marcado Para Morrer, do cineasta Eduardo Coutinho, que retrata sua luta e resistência. O documentário é um marco no cinema brasileiro, não apenas pela força da narrativa, mas também pela forma sensível com que Coutinho expõe as feridas abertas pela ditadura militar. Em 2014, Coutinho ainda produziu o documentário A Família de Elizabeth Teixeira, registrando momentos mais íntimos da vida da líder camponesa.

Curiosamente, enquanto o filme Ainda Estou Aqui, do diretor Walter Salles, indicado ao Oscar de 2025, retrata o sofrimento da família de Eunice Paiva durante a ditadura, muitos se perguntam sobre as histórias que ainda permanecem à margem da grande mídia. Histórias como a de Elizabeth Teixeira, que, além de enfrentar a repressão política, teve que lidar com o luto, o exílio, a separação da família e o estigma da clandestinidade.

O jornalista cearense Xico Sá, em um artigo recente no portal Instituto Conhecimento Liberta (ICL), destacou o paralelo entre essas duas mulheres extraordinárias da história brasileira. “Heroína de Cabra Marcado Para Morrer faz 100 anos e dialoga com a protagonista de Ainda Estou Aqui. Mulheres extraordinárias da história do Brasil”, escreveu Sá, reforçando a importância de resgatar essas memórias.

Em setembro de 2015, o professor e jornalista Jurani Clementino teve a oportunidade de entrevistar Elizabeth em sua casa, no bairro Cruz das Armas, em João Pessoa. No encontro, ele descreveu uma mulher de sorriso fácil, memória viva e um espírito resiliente, apesar das tragédias que marcaram sua vida. Elizabeth relembrou sua relação com Coutinho, o exílio em São Rafael e as dores de uma vida dedicada à luta pela justiça social.

Ao celebrarmos o centenário de Elizabeth Teixeira, também reconhecemos a história de São Rafael, que acolheu silenciosamente uma das mais importantes lideranças camponesas do Brasil. Sua presença em nosso município é um lembrete do papel que nossa região desempenhou na história da resistência e da luta pela democracia.

Que sua vida continue a inspirar gerações e que sua história nunca seja esquecida.